sexta-feira, 7 de maio de 2010

Aceita-me como sou e não te aceitarei como és

Hoje peguei um ônibus diferente do de todo dia, pra devolver um filme na locadora. Tô lá e entra um carinha e nossos olhares se cruzam. E eu o achei o maior gatinho, mantive o olhar uns segundos. Ele fez o mesmo. Fiquei meio sem graça, meio felizinha. Quando fui olhar de novo, ele ia passar na catraca. E daí eu vi: ele estava bem fora de forma. Dei uma broxada. O moço então ficou perto de mim, em pé. E virou-se pra me olhar (pode ler encarar, mais precisamente). Tinha olhos azuis. E barba. AMO barba! Um rosto realmente bonito. Fiquei imaginando o sorriso, a cantada... se era um cara bacana, o que fazia. E voltei a me lembrar que ele era gordinho.

Como mulher é mesmo maluca, mal vê um cara de quem ela nem sabe se gosta e já vai se imaginando namorando, casando e tendo filhinhos com o dito-cujo. Pausa: não poderia ser simplesmente indo pro motel e trepando divinamente, apenas?! - Quero nascer homem e bem puto na próxima encarnação! - Lá estava eu me imaginando namorando o moço. Não bastava a reciprocidade, de quem falava meu novo autor de blog favorito, http://www.contracorrenteza.com/2010/04/homem-so-quer-uma-coisa.html, ater-se simplesmente ao fato de ter trocado olhares com um mocinho interessante? Eis que eu então flagro meu pensamento antes que ele fugisse de mim mesma de tanta vergonha de ter existido. E eu me vi dizendo pra mim mesma que não valeria a pena começar algo com alguém que eu já iria querer mudar logo de cara.

Então voltemos a outro episódio do dia: rendida ao fato de estar com apenas dois pares de jeans para trabalhar (é, eu sou sortuda e trabalho de jeans!), fui ontem às compras. É, ontem às compras. HOJE, aos Vigilantes do Peso! Mal conseguia acreditar que tinha engordado dez quilos em apenas um ano!

É foda quando a gente percebe que passou tanto tempo olhando pra outro, bisbilhotando o que o outro fazia da vida pelo Facebook e outros meios, e acabou se esquecendo de olhar pra si mesma. Nesse tempo, eu pensava que poderia me entupir de todos os episódios de indulgências alimentares e que, se alguém novo surgisse em minha vida, me aceitaria como eu fosse. Seria tão especial e cheio de superpoderes que seria capaz de me enxergar além da minha capa de gordura. É mais que óbvio que dizia isso pra mim mesma lutando contra lembranças de tempos mais felizes de bundinha empinada e barriguinha riscada.

Ah, peraí! Então quem entrasse em minha vida teria que me aceitar como eu fosse, quilinhos a mais ou não. Mas eu posso achar que o gatinho do ônibus não tinha a menor chance?! Oops. "Faça o que eu digo e não o que eu faço", certo?

O fato é que todo mundo sonha demais, idealiza demais. E também é fato que um gordinho ou uma gordinha podem ser sexy, inteligentes, simpaticíssimos, não menos atraentes e sensuais. Mas um corpo bem cuidado sempre será um corpo bem cuidado. E todo mundo quer estar com alguém que se cuida. Pensando melhor, é mais ou menos como no caso do cineasta: num caso ou noutro, existe alguma falta de equilíbrio. Estar com a casa imunda ou com uns quilinhos a mais demonstram que algo te foge do controle, num mundo em que cada vez mais nos é cobrado conseguir administrar bem a própria vida, a vida alheia, os relacionamentos, o trabalho, a família, os amigos, as redes sociais, o blog, a leitura, a academia, a alimentação, a cuca...

Um comentário: