Um amigo meu teve "5 minutos" dia desses e resolveu doar um monte (mas um monte enoooorme!) das coisas dele. Vendeu o outro monte. Tinha uma porção de coisas novas, uma pá de coisas legais. O comentário dele foi que ele tinha que aprender a viver com menos. E que quanto mais se dava conta disso, mais sentia raiva daquele monte de coisas acumuladas. Eu não conseguia entender... Na minha cabeça, a gente doava o que tava velho, o que não servia mais. Não os CDs do Lenny Kravitz, os livros da Clarice Lispector, os filmes do Almodóvar!
Dias depois, comecei a me incomodar com a falta de espaço no meu armário. Resolvi separar umas coisinhas pra doação, seguindo o exemplo. À medida em que me dedicava a essa tarefa meio automática, eu percebia minha relação com aqueles objetos, pensava em suas histórias. Por que é difícil me desapegar daquela camiseta nunca usada que ficou horrível em mim? Ou desta blusinha que eu ainda adoro, me traz ótimas recordações, mas que não me serve mais? Então, no começo, eu separava poucas peças, com dor no coração.
A tarefa foi ficando mais mecânica, os pensamentos começaram a vagar... fui lembrando de alguns acontecimentos da semana anterior: eu estava muito feliz porque tinha ido a um show com uma amiga com quem tinha brigado feio - nós não tocamos no assunto, rimos, dançamos, nos divertimos muito e tenho certeza que ambas devem ter dormido muito bem naquela noite. Então, pra fechar a semana, acasos da Internet contribuíram para que eu reencontrasse um ex-namorado antigo, com quem as coisas também tinham acabado mal. Saímos, jantamos, conversamos, falamos das mudanças em nossas vidas, nos desculpamos e seguimos aliviados.
Tum! A ficha caiu como uma pilha inteira de roupas na minha cabeça! Comecei, daí, a tirar as roupas do armário sem dó, decididamente. Fiquei surpresa com o monte de coisas acumuladas de que eu não estava precisando. Com toda a energia estagnada envolvida nisso, todo o espaço sendo tomado por coisas com as quais eu nem me identificava e para as quais estava dando demasiada atenção. Aquelas roupas podiam estar fazendo a felicidade de quem realmente precisava.
Paralelamente, me lembrava do quanto tinha sido bom ter tido a oportunidade de me livrar da mágoa, dos sentimentos pesados, dos mal-entendidos com aquelas duas pessoas tão queridas. Em ambos os casos, eu estava abrindo um canal para que as boas energias fluíssem.
Se não precisamos acumular essas coisas em nossas vidas, por que o fazemos? O impulso que nos faz deixar ir pelo ralo nosso suado dinheirinho é o mesmo que nos leva a magoar aqueles a quem amamos, fazendo com que também vão embora. Depois, de nada adianta ficar olhando pra pilha enquanto nos culpamos por não termos força suficiente para nos livrarmos dessa "carga". O negócio é, uma vez percebido isso, colocar a mão na massa e sair distribuindo. As roupas e as desculpas.
Com o armário, a cabeça e o coração mais arejados, ficamos mais leves para seguirmos em frente. É necessário então tomar as rédeas da própria vida para controlar os tais impulsos. Os consumistas e os que nos consomem.
"I know it's tough, and you can never get enough
Of what you don't really need now... My, oh my!"
("Stuck in a moment you can´t get out of" - U2, cuidadosamente selecionada pelo Universo para tocar logo após eu ter terminado de escrever este post, obviamente!)
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Bom demais mesmo faxinar o armário, quase sempre o passado tem que ficar lá no passado, principalmente quando resolvido, quando solucionado... daí passamos adiante, compartilhamos com outros. As vezes a gente precisa tirar uma peça que tá lá a bastante tempo e dar uma costurada, remendar aquela lasquinha que tiramos da roupa quando nos esbarramos em algo ou alguém, daí sim... despois de costurado podemos doar aquela peça... ela está solucionada... pronta para seguir seu rumo e trazer alegria pra outros.
ResponderExcluirDe coração arejado (peço licença pra usar esse verdo do teu texto), costurado, de alma lavada... a gente segue tranquila... os fatos simplesmente fluem e tudo fica mais leve, mais limpo. A sensação é maravilhosa... de potência... somos capazes de mais... nos tornamos fortes e preparados para uma futura limpeza, uma futura costura!!!
Querida Carol, obrigada pela visita e pelo comentário. Adorei! É bem isso mesmo.
ResponderExcluirUm beijo!
Obrigado pela parte que me toca... te amo! Beijos...
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