Quando eu digo que sou amiga de ex, alguns amigos franzem a testa e me olham com aquela cara de "Tá louca?! Pra quê?!" Outros dão risada e dizem: "Impossível! Deve haver algo entre vocês ainda!" e pensam que a gente se cate de vez em quando. Tem gente que acha interessante e pergunta como é possível, finalizando com um comentário do tipo: "Eu bem que gostaria, mas ainda não cheguei a esse grau de evolução". Poucos tem relacionamentos saudáveis com os ex. E então? É mesmo possível ser amigo de ex?
Eu sempre acreditei que sim. Uma das pessoas mais importantes na minha vida era namorado e é hoje um grande amigo meu. Ele é considerado "família". Sempre nos falamos, temos amigos em comum com quem saímos. Também damos conselhos um pro outro, por termos liberdade para tal e nos conhecermos como ninguém. E isso faz um bem danado! Ver que o amor continua intacto, apesar de suas transformações, me faz sentir mais forte, mais madura. Duas pessoas se conhecem, se atraem, desenvolvem carinho, respeito e admiração uma pela outra. Começam a namorar. Vem outros sentimentos: muitas vezes amor, amizade... o carinho aumenta. Um dia elas começam a se desentender ou a perceber que o que parecia promissor passa a mostrar sinais de que nem tudo são flores e, perante as diferenças ou desavenças, podem escolher não seguir juntas o mesmo caminho. Mas isso significa que não possam mais se encontrar ao longo dele? Nem pra botar o papo em dia? Nem pra um café ou temaki? Nem numa festa com amigos em comum? Nem num chat na Internet?
Talvez eu deva dizer que sempre tivesse sido amiga dos ex. Pensando um pouco mais no assunto, eu percebo que alguns se perderam mesmo pelo caminho. Ou porque não tínhamos muita afinidade, ou porque a vida mudou e nos distanciou. Uns dizem um oi de vez em quando mas não nos encontramos mais; tem aqueles que é bom saber que não tem mágoa, mas que não fazem tanta falta; os que reencontro depois de um tempo, colocando uma pedra sobre o que passou e seguindo em frente. No entanto, eu tristemente constato que alguns escolheram deixar de falar comigo. Ou por terem ficado profundamente magoados com o jeito como as coisas terminaram ou, às vezes, nem sei exatamente o porquê.
Há que se reconhecer que término de namoro é triste pra todo mundo. Pra quem foi deixado e até pra quem deixa. Aquele que foi deixado, quando ainda gosta, tenta se reaproximar, tenta voltar, sofre. Quem deixou, por outro lado, pode se sentir responsável por toda a dor, desconcertado com as vontades sem reciprocidade. Pode não querer conviver com a culpa. Pode ficar sufocado com o amor não solicitado. É compreensível que, ao menos de início, os dois precisem de um tempo afastados. Pra reaprenderem a lidar com o espaço na agenda e o vazio, a conviver com a saudade do que não vai voltar, pra curarem o coração partido, pra fazerem um balanço geral das perdas e ganhos sem julgar ou culpar o outro. Pra amadurecer na dor. Mas esse tempo precisa durar pra sempre?
Mesmo nos casos em que há mágoa ou raiva, tem de ser eterna? Há quem diga que ficar perto de um ex traga sentimentos negativos. E quanto a cultivar mágoa e raiva? Conversar e tentar perdoar, pra mim, ainda dá menos trabalho e tem um efeito muito mais positivo do que fazer um esforço pra apagar todos os rastros e lembranças deixados, bloquear o outro de todas as redes sociais, configurar todos os e-mails, telefones e tudo mais para que a outra pessoa passe a ser vista e recebida como se nunca tivesse existido. É mesmo possível viver com isso?!
Talvez as influências deixadas por Poliana na minha adolescência ainda sejam muito fortes em minha vida adulta, mas eu sempre vou acreditar no amor, em sua força transformadora, no potencial para mudar e melhorar que todos temos. E no direito a segundas chances. Como disse minha amiga, citando Ghandi: "Freedom is not worth having if it does not include the freedom to make mistakes". Talvez seja simplesmente esta saudade daquelas pessoas queridas e gostosas que passaram por minha vida. As que fisicamente morreram, infelizmente, não podemos mais ter de volta. Mas e quanto aos que optam por morrerem um pouco (pois não são essas pessoas parte do que nos faz gente?)? Os sorrisos, as risadas, o carinho, o humor, as afinidades, a amizade, os papos, os programas... onde ficam quando o namoro acaba e nem podemos sentar num boteco juntos?
"I promise that this will be the last time you'll see me. I won't come back. I won't put you through anything like this again. You can go on with your life without any more interference from me. It will be as if I'd never existed." (...) " Don't worry. You're human - your memory is no more than a sieve. Time heals all wounds for your kind." (Meyer, 2007:71)
(Edward breaking up with Bella, in New Moon)
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
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