domingo, 30 de agosto de 2009

"Every woman needs a man..."

"Every woman needs a man
Like a fish needs a bicycle"
("Trying to throw your arms around the world" - U2)

O tema da semana parece ser expectativas. O assunto teima em me rodear por toda parte: na terapia, na conversa de boteco, na experiência que uma amiga está vivendo, na minha relação de trabalho, na relação de coisas que quero fazer da vida, no relacionamento com os amigos, na reavaliação da minha idéia de parceiro ideal... não teve como fugir das expectativas. E ela não está mesmo presente o tempo todo em todo tipo de relacionamento? E não tem sido a responsável, ou a responsabilizada por, em excesso, destruir muitos deles? Quem nunca ouviu o parceiro soltar a famosa frase "mas o que você espera de mim?!"? Quem nunca disse "mas o que você esperava?!" ou "terminou porque tínhamos expectativas diferentes"?

Eu venho notando o que as pessoas dizem a respeito do que esperam de um relacionamento. Dentre várias respostas diferentes, muita gente espera encontrar o príncipe encantado, ou a princesinha pra morar no castelinho. Várias pessoas respondem "alguém que me complete", "que cuide de mim", "alguém com quem viver uma grande paixão", "alguém que me que faça rir", "alguém divertido", "um companheiro", "alguém que tenha os mesmos gostos que eu" e por aí vai.

Tem quem tenha uma lista enorme e saia por aí como quem procura um produto pronto, customizado, numa prateleira. Claro que, quando o produto não vai exatamente de encontro às expectativas, esse tipo de pessoa o usa e joga fora, o devolve no mercado ou fica tentando mudá-lo. E muita gente acaba acreditando ser mesmo um produto. Se esforça pra ter uma bela embalagem, um bom conteúdo e, ainda, ser considerado muito gostoso ou, ao menos, "comível". Investe horrores em propaganda. Espera ser levado pra casa e que a data de validade seja eterna.

Muita expectativa é sempre uma merda. Pra todo lado. Do lado de quem a gera, é foda porque a pessoa, quando não tem o que quer, fica frustrada e esperando que o outro mude. Pode achar que não é valorizada o suficiente, ou que não é correspondida. Do lado do outro, sufoca. A pessoa pode se sentir como se nunca nada fosse suficiente. Alguns reclamam que talvez precisassem de mais tempo para que as coisas acontecessem naturalmente. Outros saem correndo rapidinho por sentirem que o outro está invadindo seu espaço, querendo controlar sua liberdade. E, em muitos casos, sentem-se como tábua de salvação, muleta ou o guia de entretenimento.

Quando as expectativas nos cegam, só vemos o que queremos e do que precisamos. Não conseguimos ver o outro como ele realmente é. Não conseguimos ver o que ele quer, o que sente de verdade e o que pode realmente nos oferecer. E também não conseguimos ver que cada um de nós deve ser uma pessoa inteira, suficiente, que não precisa de "cara-metade" pra ser completo, pra começar a ser feliz. Podemos ter nossos objetivos, planos para o fim de semana, encontros com amigos, almoços de família, afazeres e interesses, independentemente de estarmos com alguém para nos fazer compania ou até mesmo para que certas coisas se concretizem. A gente não pode esperar que uma pessoa vá chegar pra transformar nossa vidinha sem sal num conto de fadas. Nem que, quando encontra alguém legal, vá fazer tudo junto o tempo todo.

Diferentemente do que prega Saint-Exupéry, ninguém mais, nos cativando ou não, é responsável por nós e pela nossa felicidade do que nós mesmos. Olha só o peso que uma responsabilidade dessas tem! - a gente mal já dá conta da própria, imagine carregar o outro?! E, por falar em carregar, eu estava no boteco conversando com um menino interessantíssimo e ele mencionou um episódio, ilustrando um papo sobre o mesmo assunto, que me fez pensar. Disse que quando vai fazer trekking com a namorada, ele não acha que tem que dar a mão para ela poder superar os obstáculos. Segundo ele, fazer isso seria chamá-la de incapaz. Ele fica por perto e, quando vê, ela já até o ultrapassou. Ainda assim, ele continua achando legal beijar a sua mão e dizer que está orgulhoso dela quando chegam no final.

Precisar de outra pessoa realmente é uma coisa complicada! Terminei de ler o segundo livro da saga Twilight (Crepúsculo), o New Moon, em que a mocinha toma um pé na bunda e sofre feito uma condenada. Como se o sofrimento dela, descrito em detalhes, não fosse suficiente pra fazer com que a maioria das pessoas achasse esse o livro mais chato dos quatro, ela ainda cita Romeu e Julieta o tempo todo. Ok, Romeu e Julieta pode ser uma estória linda e romântica, mas precisa mesmo preferir morrer a viver sem o outro?!

Relações baseadas na necessidade costumam ser desequilibradas. Muito mais fácil seria estar com o outro porque a gente quer, não porque precisa. Porque gosta da pessoa e não do que ela nos proporciona.

"I am not your rolling wheels,
I am the highway.
I am not your carpet ride,
I am the sky.
I am not your blowing wind,
I am the lightning.
I am not your autumn moon,
I am the night."
("I am the highway" - Audioslave)



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