sexta-feira, 24 de julho de 2009

Impotência

Este não é mais um post sobre sexo, no qual o assunto abordado seria aquela famosa situação do "isso nunca me aconteceu antes". Podem relaxar, por hora. Mas podem aguardar esse outro post que um dia ele vem.

Em tempos de "letting go", ando me desfazendo de coisas materiais, como ritual de passagem, para ver se tudo isso é incorporado como um hábito e eu passo a acumular menos coisas que não me servem, passo a gastar menos dinheiro e energia, deixo mais espaço livre e dou uma arejada. Claro que tudo isso faz parte de um intenso treinamento para me fortalecer e deixar outras coisas, tais como sentimentos, lembranças e pessoas irem também.

Eis que nesse meio tempo, na terça feira, mais especificamente, eu estou voltando do trabalho e vejo um assalto. Dois caras a pé partiram pra cima de uma moça, também a pé, e, enquanto um provavelmente mostrava-lhe uma arma por baixo da jaqueta, o outro a cobria de pontapés. Eu não estava muito longe deles, esperando meu ônibus. Tinha visto três motos da polícia saírem do mesmo posto de gasolina pelo qual a moça passou, e por onde eu também tinha passado minutos antes, e os dois caras saírem de lá logo depois dela. Eles meio que corriam e paravam, eu vi que tinha algo estranho. Pensei que estivessem brincando um com o outro. Ou que os dois fossem brigar, sei lá. Não que fossem assaltar a moça. Muito menos agredí-la fisicamente daquela forma! Bem, eu acho que se tratava de um assalto, né? Plena Avenida Santo Amaro, 10 horas da noite, um monte de gente passando de carro, um taxista no posto olhando, um cara do meu lado no ponto de ônibus também vendo tudo... e ninguém faz absolutamente nada! Meu ônibus chegou bem na hora, eu entrei e liguei para a polícia. Uns 10 minutos depois é que passou uma viatura. E algumas horas depois eles me ligaram pra dizer que não encontraram nada, nem ninguém (Claro que não!).

Ao contar a história pra alguns amigos, um deles me aconselhou a não tomar isso pra mim como se tivesse acontecido comigo. Ok, eu concordo com isso. Também concordo com ele quando disse que o medo nos distrai a atenção e me lembro claramente do mentor de um treinamento que fiz dizendo que o medo nos paraliza. Não é minha intenção deixar que ele tome essas proporções. A gente tem que continuar vivendo, mora numa cidade grande, essas coisas acontecem, se mantivermos pensamento positivo e boa faixa vibratória, a tendência é atrairmos coisas boas pra nós.

Mas esse meu amigo também me disse que uma cidade como São Paulo não é para mentes sensíveis. Embora ele tenha dito que a maneira como interpretei isso fosse um mal-entendido, eu entendi como se eu é que fosse a errada em me sensibilizar com o ocorrido. Fiquei me sentindo como se eu é que tivesse que pedir desculpas, além de tudo. Minha sensação de impotência aumentou. Como não me sensibilizar, ao menos, já que se tratava de uma mulher e não havia necessidade de tanta agressão? Como não ficar apavorada, se eu passo pelo mesmo lugar todas as noites, no mesmo horário? Como não me sentir impotente sabendo que nada pode ser feito pra punir, nem evitar tais situações?

Ser mulher nessas horas não ajuda muito. Também nisso levamos desvantagem. E eu volto a me perguntar se vale a pena esse negócio de ficarmos fazendo tanto esforço pra termos direitos iguais, sendo que somos sempre as vítimas em ocasiões como essa. Sexo frágil, sim! Como negar? Aliás, sexo muito mais forte em uma infinidade de coisas (nem vou entrar nos detalhes de depilação, parto, jornada dupla, maternidade e tudo mais!), mas ainda presa muito fácil. Tem horas em que eu simplesmente me canso de bancar a Mulher Maravilha. Todas nós precisamos, sim, de um Superman pra nos salvar de vez em quando. O meu não veio exatamente numa capa vermelha, mas fiquei feliz ao ver que ele estava lá. E me orgulhei muito de mim mesma por ter sido capaz de admitir que estava amedrontada e frágil e ter tido força pra simplesmente pedir ajuda.

Há três dias eu durmo muito mal e sonho com coisas relacionadas. Sonhei várias vezes que eu era assaltada. Levavam minha câmera fotográfica; meu xodó, que é meu celular novo; meu iPod... e eu os via separar meus cartões de crédito, naquela atitude de ladrão seguro de si e de que nada vai lhes acontecer.

Percebi que uma coisa é a gente identificar que está pronto pra deixar certas coisas irem e, espontaneamente, resolvermos dá-las a outra pessoa. Outra coisa muito diferente é as coisas de que gostamos tanto e que fazem a nossa felicidade nos serem tomadas bruscamente, quando não estamos preparados para deixá-las ir.

"Medo de tudo, medo do nada
Medo da vida, assim engatilhada..."

3 comentários:

  1. "...uma cidade como São Paulo não é para mentes sensíveis."
    Interessante... Eu nunca tinha visto por esse ângulo! Sempre pensei o contrário, pois São Paulo tem de tudo! E uma "mente sensível" precisa de muita coisa para se manter viva e pq não sensível... Precisa de variedade, possibilidades... Precisa ser muito limitado pra conseguir enxergar só o trânsito e a garoa aqui!
    Enfim... Relaxa... Tenta não deixar realmente o medo te paralisar... Algumas coisas não só vão ser iguais por toda a eternidade como inclusive podem piorar! (Sim! Falo da diferença entre homens e mulheres......). E vamo que vamo...

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  2. Primeiro, deixe que eu diga que eu adoro você, e que meu preocupo, e que não te senti bem após o ocorrido que presenciaste. Por conta disso, apesar de louvar o fato de a violência te tocar - afinal existe uma gama se seres humanos que não se manifestam ao sofrimento alheio, e há os piores que se comprazem - alertei-lhe que o medo decorrente da situação, como todos os medos, causa imobilidade e tira a atenção. Para o seu bem, é melhor que andes alerta. Que a violência sempre te toque, incomode, mas nunca intimide.
    Em relação à São Paulo, quem conhece como eu os quatro cantos desta cidade, sabe que a cor dela é cinza, que a cidade é concreta - não no sentido de inteireza mas de dureza - e que este aglomerado em que vivemos chega a ser cruel com seus moradores. São Paulo é uma cidade sem lenitivos, sem pontos de referência, onde as ALMAS mais sensíveis podem facilmente se perder. Foi esse o comentário na ocasião de nossa conversa. Assim, espero que entendas que uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. Quero o teu bem como quero o bem de toda esta cidade. O teu bem é andardes atenta. O bem desta cidade é um dia aprendermos que a paciência que temos que ter no trânsito é a paciência que temos que ter com o próximo, que a planta que eu arranco da fenda do muro não tira só o verde, mas aumenta também o cinza. É entender que, na garoa, seu eu correr eu me molho mais do que se continuasse andando no meu ritmo. Um dia mudaremos esta cidade para algo muito melhor e que ainda não existe. Neste dia entenderemos, sem rir de escárnio, o gesto daquele senhor que navegou no Tietê em uma bóia segurando a bandeira do Brasil. Lembro que o âncora do jornal riu, o bombeiro riu, enquanto o senhor explicava que a sua loucura era para chamar a atenção de que as coisas precisavam ser mudadas. Um dia seremos capazes de mudar estas coisas, e faremos isso juntando pessoas que, como você, se manifestam ao ver a dor do outro. Beijos a você e à São Paulo.

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  3. Carlos, you´re forgiven and forgotten, honey. Obrigada pelos comentários e pelo carinho, queridos.

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